Usada como abrigo de plantas, cadeiras e churrasqueira, a varanda dos apartamentos tem passado por reformas e ganhado novas funções que vão de brinquedoteca a cozinha. A tendência tem sido estimulada, segundo arquitetos, pelo tamanho cada vez menor dos imóveis.
"Os quartos quase nunca têm espaço para brincadeira. Muitos prédios também não têm playground. É isso que tem feito das varandas o novo lugar do brincar", diz a designer Mariane Cunha, da empresa de reformas AH!SIM.
O arquiteto Marcelo Nunes, da DT Estudio, em São Paulo, vê outro motivo. "Além de subutilizadas, as varandas geralmente são entregues com um layout mal resolvido e acabam passando por uma intervenção para ganhar um novo uso pela família", diz.
A publicitária Lucila Zahran, 33, montou uma brinquedoteca na varanda de seu apartamento no Itaim Bibi (zona oeste de São Paulo) após a chegada de seu primeiro filho, Bento, em 2014. Antes disso, diz ela, o local ficava às moscas.
"Não tinha função. Na segunda vez que meu marido usou a churrasqueira, esqueceu de ligar o exaustor e o apartamento ficou todo defumado. Foi um horror", afirma a publicitária.
Para criar o canto predileto de Bento, a publicitária pôs abaixo a pia e a churrasqueira e ergueu no lugar um espaçoso armário de freijó -madeira nobre -, onde os brinquedos ficam guardados. "Quando não dá tempo de organizar os brinquedos, jogo tudo lá dentro e fecho. Ninguém vê a bagunça", afirma.
Segundo ela, após a reforma o espaço se tornou o mais frequentado da casa. "A gente janta ali e brinca com ele ao mesmo tempo."
A obra durou um mês e custou cerca de R$ 40 mil -o valor incluiu projeto arquitetônico, obra, marcenaria, redistribuição dos móveis, paisagismo e nova iluminação.
AUTONOMIA
No Brooklin Paulista (zona oeste), a psicóloga escolar Carolina Rodrigues, 36, diz que entre 60% e 70% das varandas de seu prédio têm brinquedotecas, apesar do condomínio ter área de lazer.
O espaço reservado para as duas filhas dela na varanda, de 30 metros quadrados, convive com a churrasqueira da família. "Uma parede separa os dois lugares. Não tivemos que fazer nenhuma obra quando adquirimos o apartamento", diz ela.
No piso, a psicóloga instalou um tapete emborrachado. Ela optou por fechar a varanda com vidro para conter o vento -o imóvel está no 22º andar.
Os brinquedos estão distribuídos no local em diversas caixas, cada uma com um tema -uma guarda os itens de cozinha infantil e outra legos, por exemplo. "Todos os brinquedos estão à mão. Elas criam situações com as peças e desenvolvem a autonomia."
"Acho que se a sacada fosse cheia de pufes, poltrona e mesinha, não seria tão usada por nós. Do jeito que está, eu e meu marido interagimos com as crianças, é muito benéfico", afirma ela.
O administrador de empresas Andre Battaglia, 41, levou a cozinha para a varanda de seu apartamento usado para locação, nos Jardins, e acabou otimizando os 25 m² da área total do imóvel. "A reforma ampliou muito a sensação de espaço", diz.
PLANO DE AÇÃO
Reformar a varanda exige tempo, planejamento e paciência, afirma o arquiteto Marcelo Nunes. A obra precisa receber o aval do condomínio e ser assinada por um engenheiro civil.
O segredo para tudo dar certo, complementa Nunes, é planejar. "É melhor ficar três meses em projeto e três meses em obra do que duas semanas em projeto e um ano em obra", afirma.
Para o arquiteto Adriano Mascarenhas, da Sotero Arquitetos, de Salvador, é preciso tomar cuidado com o resultado. "Se a reforma tornar o espaço muito personalista e diferente demais, pode atrapalhar uma venda futura do imóvel", diz.
Mas a designer Mariane Cunha ensina um truque. "Só opte por intervenções que são reversíveis. Assim, a chance de ter dor de cabeça será bem menor", afirma.